sábado, 18 de dezembro de 2010

Ouvir os próprios sentimentos

A agressividade do tratamento do câncer tais como cirurgias, quimioterapias e radioterapias mexem demais com o nosso corpo e consequentemente com nosso mundo interno.

Ficamos mais carentes e surgem questões de passado, de família, e a nossa própria estrutura de personalidade nos vem a tona, e temos oportunidade de nos deslocarmos de nós mesmos e ter percepções diferentes, diante de toda uma vida de condicionamentos que temos vivido.

Em todo este processo, muitas coisas podem surgir.  No meu caso, devido ao meu acompanhamento psicológico, tenho conseguido paulatinamente, organizar este processo e alinhado muitas descobertas, embora sempre as reais conquistas sejam um processo de médio/longo prazo.

Porém, de uma forma geral, tenho aprendido muito com a doença.  Aprendi a expor melhor os meus sentimentos, a por para fora melhor aquilo que me incomoda, sabendo pedir aos outros aquilo que me faz bem. Ou seja, sendo mais meu melhor amigo.

Ultimamente, estou mais perceptivo aos meus próprios sentimentos internos, estou me entendendo melhor. Acho isto uma grande descoberta.  Tenho percebido que geralmente somos muito  dissociados dos nossos verdadeiros sentimentos, devido a nossa educação/cultura.

Somos levados a reprimir os sentimentos tidos como negativos, para os quais a razão rapidamente chega atropelando e solavancando-os para debaixo do tapete.  Porém, tenho percebido que não existe certo ou errado em sentimentos.

Você pode estar magoado, chateado, irritado, com ciúmes, alegre, feliz, preocupado, ansioso, com medo, etc.. Enfim, são uma infinidade de sentimentos que diariamente você pode sentir, de acordo com as situações.

O fato de não querermos experenciar os sentimentos ditos negativos e sufocá-los, entrando rapidamente com a parte racional, faz com que nos distanciemos de nosso mundo interior e passamos a viver num mundo que não é o verdadeiramente nosso.  Isto nos leva aos complexos, às saídas inadequadas para a vida, às distorções, pois tudo está sendo vivido a partir de referências externas.

Ao contrário, aquilo que parece perigoso, ou seja, viver os próprios sentimentos, sorver e experenciar toda a angústia de sentir aquilo, olhar para dentro de nós mesmos e deixar estes sentimentos se expressarem, admitir-se com raiva, magoado, com ciúmes, triste, etc, sem querer justificar, não vai trazer consequências desastrosas para a sua vida, pois você está apenas dando vazão e entendendo o que se passa internamente.

Aqueles conteúdos que você se permitiu viver, não vão se acumular, e com os próprios acontecimentos eles vão tomando outras formas e você vai encontrar saídas realmente positivas e conectadas com a realidade sua e dos outros, que atenda verdadeiramente suas necessidades internas, de forma que a sua vida vai se tornando cada vez mais plena e feliz.

Ou seja, os sentimentos vividos, conduzem a reflexões sensatas e atitudes equilibradas e com o passar do tempo a uma vida autêntica, plena e feliz.

Parece simples, e acho que realmente é, porém são as coisas simples as mais difícieis de se realizar e entender.

Estar conectado consigo mesmo, é se auto-conhecer, e o auto-conhecimento é a libertação de nós mesmos para viver a vida como ela é.

2 comentários:

  1. Caríssimo Felipe, nada a comentar: está perfeito! Só uma sugestão: da próxima vez não se permita sofrer tanto para aprender. Use os recursos que vem juntando e reconstrua sua vida de um modo diferente. Este é o segredo. Como dizia o grande Chico Xavier: "não se pode voltar atrás e fazer um novo começo. Mas sempre se pode começar a fazer um novo fim." Sábias palavras. Fico muito, mas muito feliz mesmo, por suas conquistas pessoais no terreno do autoconhecimento e fico aqui, torcendo por você. Sucesso, meu amigo! Beijos.

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  2. Gostei muito do post. Estive afastada da Internet por tres dias. Mas estou aqui de volta.
    Telefono para você amanhã. OK?
    Fico contente de ver você poder escrever e falar sobre seus sentimentos e emoções.Faz tão bem!!!!
    Nisso eu sou uma expert, rsrsrsrs....
    Beijo,
    Beth

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